EDUCAÇÃO PARA O SONO POR MEIO DE APLICATIVOS DIGITAIS DE SAÚDE EM TEMPOS DE RACIONALIDADE NEOLIBERAL

  • Vera E. da Costa Somavilla Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc.
  • Cristiane Pimentel Hernandes Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc.
  • Ketlin Felden Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc.
  • Camila Becker Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc.
  • Douglas Luís Weber Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc
  • Camilo Darsie Universidade de Santa Cruz do Sul / Programa de Pós-graduação em Educação
Palavras-chave: Tecnologia, Aplicativos Móveis, Saúde, Sono, Educação, Biopolítica

Resumo

Este artigo descreve e analisa aplicativos digitais direcionados ao controle e à melhoria do sono por meio do conceito de biopolítica. Foi desenvolvida pesquisa qualitativa exploratório-descritiva que identificou e testou aplicativos direcionados ao sono oferecidos em lojas virtuais dos sistemas IOS e Android. Os dados produzidos foram tensionados a partir de referencial teórico associado à temática do sono e ao conceito de biopolítica, por meio de revisão narrativa da literatura. Foram selecionados 90 aplicativos por meio dos quais diferentes funcionalidades são oferecidas, como: sons para relaxamento, criação de perfis de desempenho do sono, técnicas de meditação e orientações de higiene do sono. Diante da literatura utilizada, identificou-se que os aplicativos se associam às demandas emergentes do engajamento dos seus usuários, afastando-se dos conhecimentos científicos relacionados ao tema, visto que suas técnicas são apontadas como duvidosas. Contudo, constituem-se como ferramentas biopolíticas que operam na direção de educar sujeitos com base em argumentos que associam suas funcionalidades ao maior desempenho de atividades diárias. Assim, fortalecem-se através da racionalidade neoliberal ao mesmo tempo em que a potencializam com base em jogos de poder, ou seja, de dinâmicas que conduzem sujeitos não pela proibição, mas sob a lógica da possibilidade de escolhas individuais, conscientes. Os aplicativos digitais direcionados ao controle e melhoria do sono se sustentam, especialmente, por discursos do campo da saúde associados à maior produtividade. Assim, operam educativamente, produzindo sujeitos que visam maiores índices de desempenho individual. Diante disso, necessitam ser discutidos com maior profundidade e atenção.  

Biografia do Autor

Vera E. da Costa Somavilla, Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc.
Professora do Programa de Pós-graduação em Psicologia e cursos de Medicina e Enfermagem da Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc.
Cristiane Pimentel Hernandes, Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc.
Professora do curso de Medicina da Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc.
Ketlin Felden, Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc.
Acadêmica do curso de Medicina da Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc.
Camila Becker, Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc.
Acadêmica do curso de Medicina da Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc.
Douglas Luís Weber, Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc
Professor do curso de Medicina da Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc.
Camilo Darsie, Universidade de Santa Cruz do Sul / Programa de Pós-graduação em Educação
Professor do Programa de Pós-graduação em Educação e curso de Medicina da Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc.

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Publicado
2024-06-11
Como Citar
Somavilla, V. E. da C., Hernandes, C. P., Felden, K., Becker, C., Weber, D. L., & Darsie, C. (2024). EDUCAÇÃO PARA O SONO POR MEIO DE APLICATIVOS DIGITAIS DE SAÚDE EM TEMPOS DE RACIONALIDADE NEOLIBERAL. Revista DisSoL - Discurso, Sociedade E Linguagem, 20(20). https://doi.org/10.35501/dissol.v20i20.1133