A FIGURA DA IRONIA COMO PROCESSO RETÓRICO-PROBLEMATOLÓGICO E EFEITO DO INCONSCIENTE
Abstract
A ironia se configura como a figura de retórica por excelência por exemplificar e comprovar, em sua própria definição e constituição, a natureza “problematológica” da linguagem. Durante bastante tempo, a retórica considerou o homem como fundamento de si, do dizer, portador e produtor de uma racionalidade assertórica que muito pouco questionava o próprio dizer e a sua condição enquanto sujeito de razão. Entretanto, a teoria retórica da “problematologia” do filósofo belga Michel Meyer (1991, 1992, 2007) apresenta que a retórica é antes uma ferramenta de racionalidade interrogativa, que rejeita o proposicionalismo da razão cartesiana e positivista, em prol de uma visão do sujeito retórico e da própria retórica como plurais, irresolutos, desfundamentalizados e, em parte, frutos de processos do inconsciente, e que, portanto, põe o logos como o momento do resgate da diferença problematológica e das falhas de sentido. Destarte, esse artigo visa apresentar a ironia como uma marca condensada do caráter problematológico da linguagem e das implicações das falhas de sentido e, em certa medida, dos processos do inconsciente.References
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