MOVIMENTOS DE SENTIDO SOBRE O BRINCAR E O CORPO BRINCANTE NO DOCUMENTÁRIO TARJA BRANCA

  • Aline Fernandes de Azevedo Bocchi Programa de Mestrado Linguística da Universidade de Franca
  • Rita Gabriela Moreira Gomes Unifran
Palavras-chave: infância, brincar, corpo, linguagem, análise do discurso.

Resumo

Este artigo tem por tema os discursos sobre a infância, o brincar e a brincadeira. Nele, investiga-se os sentidos constitutivos para o brincar e o corpo brincante, a partir do exame de recortes do vídeo-documentário Tarja Branca, dirigido por Cacau Rhoden e lançado em 2014 no Brasil, com vistas a problematizar a relação entre as práticas de medicalização e consumo na sociedade contemporânea, sua consequente desvalorização das experiências lúdicas e do brincar, observando como são constituídos os sentidos que significam os sujeitos e seus corpos. Como fundamentos teórico-analíticos, trabalhamos com a Análise do Discurso praticada no Brasil em torno no nome de Michel Pêcheux e seu grupo. É desde seus pressupostos que construímos nossos procedimentos metodológicos: partimos da materialidade do documentário fílmico, cuja estruturação articula imagem, som e palavra, buscando vestígios das posições-sujeito nele inscritas e dos trajetos de memória constitutivos de sentidos para o brincar e o corpo brincante. As análises nos permitem identificar e compreender posições ideológicas de embate e crítica à medicalização do corpo e à produtividade que marcam as sociedades contemporâneas. Nas condições materiais de vivência da infância na atualidade, observa-se uma injunção ao desenvolvimento de habilidades para o mundo do trabalho e do consumo, as quais demandam o adestramento do corpo da criança e a normalização de seu comportamento. Em resposta a essas demandas ideológicas, o vídeo-documentário sustenta um processo discursivo em favor da recuperação e valorização do lúdico, constituindo um discurso de resistência.

Biografia do Autor

Aline Fernandes de Azevedo Bocchi, Programa de Mestrado Linguística da Universidade de Franca
Bacharelado em Comunicação Social (Jornalismo) pela UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2001). Mestrado em Ciências da Comunicação pela USP - Universidade de São Paulo (2006), com apoio Capes. Doutorado em Linguística pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas (2013). Pós-Doutorado pela mesma instituição com estágio na Université Paris 13, apoio Capes PNPD e bolsa Capes de Estágio no Exterior (2015). Possui experiência nas áreas de Linguística e Comunicação, com ênfase em Análise de Discurso, atuando principalmente com os seguintes temas: Análise de discurso, discursividades do corpo, teorias linguísticas, feminismos, discursos sobre parto e maternidade, testemunho e psicanálise. Atuou como docente em cursos de graduação e pós-graduação. Foi orientadora Educacional Online do Curso de Especialização em Língua Portuguesa REDEFOR-Unicamp (2010-2012), docente do curso online de Pós-graduação Lato Sensu em Metodologias de Ensino de Língua Portuguesa na Universidade Gama Filho e do curso de Bacharelado em Design Digital na UNIARA (2013). Atualmente é pesquisadora colaboradora (PNPD) no Programa de Mestrado Linguística da Universidade de Franca. Membro do Projeto de Pesquisa Mulheres em Discurso. Lugares de enunciação e processos de subjetivação, financiado pelo CNPq, processo 487140/2013-3.

Referências

ALTHUSSER, L. Aparelhos ideológicos de estado: nota sobre os aparelhos ideológicos de Estado (AIE). Trad. Walter José Evangelista e Maria Laura Viveiros de Castro. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985.
AZENHA, C. A. C.. Brincar: ato à toa? In: LEITE, Nina Virginia de Araújo; MILÁN-RAMOS, J. Guillermo. Entreato. O poético e o analítico. São Paulo: Mercado das Letras, 2011.
AZEVEDO, A. F. de.. Cartografias do corpo: metáforas contemporâneas da sutura e da cicatriz. Tese de Doutorado. Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP, 2012.
___________. Tecnologias do corpo: a dança urbana como forma de relação social. Revista Interfaces. Número 19, v.2, jul./dez. 2013.
BADIOU , Alain. Pequeno manual de inestética. São Paulo: Estação Liberdade, 2002.
BENJAMIN, W. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Editora 34, 2009.
BRODSKY, G. Short story. Os princípios do ato analítico. Rio de Janeiro: Contracapa, 2004.
DANTAS, J. B. Tecnificação da vida: uma discussão sobre o discurso da medicalização da sociedade. Fractal: Revista de Psicologia, 21 (3), 563-580, 2009.
DOLTO, F. A causa das crianças. São Paulo: Ideias & Letras, 2005.
EDINGTON, V. L. T. A medicalização da infância: uma leitura analítica. Salvador, 2012.
FREUD, S. O mal-estar na civilização, novas conferências introdutórias à psicanalise e outros textos. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1930-1939.
JERUSALINSKY, J. A criação da criança. Brincar, gozo e fala entre a mãe e o bebê. Salvador: Ágalma, 2014.
LAURENTINO, M. C. S.; MELO, V. B. O Brincar nas Perspectivas: Freudiana, Kleiniana e Winnicottiana. Psicologado, [S.l.]. (2015). Disponível em https://psicologado.com.br/abordagens/psicanalise/o-brincar-nas-perspectivas-freudiana-kleiniana-e-winnicottian . Acesso em 12 Jun. 2020.
MACHADO, L, V.; FERREIRA, R, R. A indústria farmacêutica e psicanálise diante da "epidemia de depressão": respostas possíveis. Maringá, v.19, n1, p.135-144, mar. 2014. Disponível em: . Acesso em 17 mar. 2020.
MIRALPEIX, R. Para que haja corpo... XI Encontro Internacional dos Fóruns e VII Encontro Internacional da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano. Buenos Aires, jul. 2020.
ORLANDI, E. P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 12. ed. Campinas, SP. Pontes, 2015.
______. Discurso em Análise: Sujeito, Sentido e Ideologia. Campinas: Pontes, 2012.
PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. 4a ed. Campinas: Pontes, 2009.
______. Análise automática do discurso (AAD-69). In: GADET, Françoise; HAK, Tony. Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. 4a ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2010.
SANCHO, A. K.; PFEIFFER, C. R. C.; CORRÊA, S. R. C. Medicalização, diagnóstico clínico e queixa-conduta-redes de significação em jogo. Botucatu, 2019. Disponível em: < https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832019000100202&tlng=pt>. Acesso em 10 jun. 2020.
SARTI, M. M. O destino trágico do sujeito desejante face à medicalização e à capitalização de sua negatividade. In: BARROS, R. C. B.; MASINI, L. Sociedade e medicalização. Campinas: Pontes, 2015.
SOLER, C. O que resta da infância. São Paulo: Escuta, 2018.
VORCARO, A.; VERAS, V.. O brincar como operação de escrita. Estilos clínicos, São Paulo, v.13, n.24, p. 24-39, jun. 2008. Disponível em . Acessos em 21 abr. 2019.
Publicado
2020-11-12
Como Citar
Bocchi, A. F. de A., & Moreira Gomes, R. G. (2020). MOVIMENTOS DE SENTIDO SOBRE O BRINCAR E O CORPO BRINCANTE NO DOCUMENTÁRIO TARJA BRANCA. Revista DisSoL - Discurso, Sociedade E Linguagem, (11), 128-150. https://doi.org/10.35501/dissol.vi11.875