EDITORIAL

  • Aparecida Duarte Univas
  • Wagner Rodrigues Valente Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Palavras-chave: Educação matemática. História da Educação Matemática. Escola.

Resumo

A Revista Argumentos Pró-Educação tem como escopo fomentar o debate entre pesquisadores que se preocupam com o aprimoramento da Educação, mantendo-se como espaço adequado para a divulgação de produção científica nesta área. Com a pretensão de colaborar com as investigações desenvolvidas por grupos de pesquisa, lança o presente número temático que divulga resultados de trabalhos recentes que tratam do saber profissional do professor que ensina matemática em perspectiva histórica.Os artigos inseridos neste número e que tratam dessa temática são de pesquisadores de diversas universidades brasileiras, empenhados em produzir história da educação matemática. Todos integram o Grupo Associado de Estudos e Pesquisas sobre História da Educação Matemática – GHEMAT/BRASIL, com exceção do artigo que inaugura este número, de autoria de Fredy Enrique González, da Universidad Pedagógica Experimental Libertado (UPEL, Núcleo Maracay, Aragua, Venezuela) e membro associado do Comitê Latinoamericano de Matemática Educativa (CLAME).O primeiro artigo deste número tem como título “100 fontes para estudar história da educação matemática de Venezuela”, de autoria de Fredy González. Registra e analisa trabalhos publicados em educação matemática no contexto venezuelano. Na substancial análise realizada, o autor abarca pesquisas sobre o papel da história da matemática na formação do professor de matemática bem como aquelas que tratam da historiografia da educação matemática. Os documentos coletados permitiram ao autor concluir que a educação matemática na Venezuela se constitui em campo disciplinar em processo de consolidação e constatar a existência de uma comunidade de pesquisadores voltada para o desenvolvimento desta área do conhecimento no referido país.Eliene Barbosa Lima e Wagner Rodrigues Valente assinam o artigo “O saber profissional do professor que ensina matemática: considerações teórico-metodológicas”. Os autores analisam textos que tratam dos saberes profissionais na formação do professor, especificamente os saberes a ensinar e saberes para ensinar, desenvolvidos pela Equipe de Pesquisa em História das Ciências da Educação (ERHISE) da Universidade de Genebra, de modo a possibilitar diálogos teórico-metodológicos para uma historiografia que envolva processos de profissionalização do professor que ensina matemática em diversos contextos brasileiros. Essas referências suíças vêm sendo empregadas pelo GHEMAT para a conceituação de uma matemática a ensinar e matemática para ensinar, que podem ser estabelecidas a depender das interrogações do pesquisador, em conformidade com embasamento teórico-metodológico específico.No terceiro artigo, “Matemáticas disciplinares nas aulas militares do Gram-Pará (1700 – 1900)”, Iran Abreu Mendes investiga aspectos históricos sobre a institucionalização e funcionamento das aulas militares na província do Gram-Pará, no período compreendido entre o final do século XVII e a primeira metade do século XIX, enfatizando as matemáticas abordadas nessas aulas. O autor destaca a participação de Antonio Baena na formação de engenheiros-militares, o que oportunizou a reorganização da educação naquela região e propiciou a criação da Escola de Engenharia do Pará, a qual deu origem, em meados do século XX, à Faculdade de Matemática no Pará.Em “Formação de professores: uma história da prática do ensino de aritmética, 1892-1914”, os autores Maiara Elis Lunkes, David Antonio da Costa e Iara Zimmer buscam caracterizar como estavam organizadas as atividades relativas à formação prática do professor primário catarinense para o ensino de aritmética, na virada do século XIX para o século XX. Para tanto, investigam normas e prescrições práticas de instituições escolares, utilizando como fontes de pesquisa programas e regulamentos de ensino da Escola Normal Catharinense, mensagens do governador do estado, dentre outras. O estudo constata que a formação prática do professor para o ensino da aritmética assentava-se na observação de modelos.Rogerio dos Santos Carneiro e Neuza Bertoni Pinto, no artigo “Saberes para ensinar matemática e a expertise docente na obra de Fontoura” analisam a obra “Metodologia do Ensino Primário”, de autoria de Afro do Amaral Fontoura. Com a pretensão de compreender como se articulam os saberes a ensinar com os saberes para ensinar matemática presentes nesse manual didático, tomam como referência teórica os estudos da Equipe de Pesquisa em História das Ciências da Educação (ERHISE), Universidade de Genebra. O estudo evidenciou que os saberes matemáticos elementares para ensinar presentes na referida obra se baseavam nos princípios da Escola Nova. Os autores também verificaram sinais da expertise de Fontoura, posto que teve papel decisivo como organizador de manuais para a formação inicial de futuros docentes, além de se destacar como profundo conhecedor do ofício docente.O artigo “Os modelos escolares na primeira república em Mato Grosso”, dos autores Laura Isabel Marques Vasconcelos de Almeida e Mariana Gomes de Oliveira, é recorte de uma pesquisa de mestrado que teve como objetivo investigar documentos oficiais produzidos nos anos finais do século XIX e início do século XX, os quais tratam da instrução pública do estado do Mato Grosso. O estudo traz à tona processos e dinâmicas que regulamentavam a organização pedagógica e disposição dos modelos escolares, naquele período de transição do governo imperial para a república.Denise Medina de Almeida França e Elenice Zuin, no artigo “Dienes: expertise e produção de saberes no Brasil na década de 1970” procuram identificar a constituição da expertise do educador matemático húngaro Zoltán Dienes por meio da análise dos processos de produção, sistematização e objetivação de saberes matemáticos no ensino primário, durante o Movimento da Matemática Moderna. Apoiando-se nas considerações sobre matemática a ensinar e matemática para ensinar, as autoras consideram que Dienes contribuiu significativamente para a elaboração de saberes para ensinar, em conformidade com as concepções modernas de ensino da matemática vigentes na década de 1970.No artigo “O ensino de geometria em tempos de matemática moderna em Minas Gerais”, Thiago Neves Mendonça e Maria Cristina Araújo de Oliveira discutem a atuação da professora Myriam Boardman de Oliveira no ensino de geometria do primário, durante o Movimento da Matemática Moderna, no período de 1960 a 1980, no estado de Minas Gerais. Como fontes de pesquisa, os autores fazem uso de documentos oficiais que regiam o ensino primário mineiro naquele período, cadernos da professora Myrian e livros didáticos por ela utilizados. Os resultados apontam que algumas recomendações do Movimento da Matemática Moderna encontram-se presentes nos documentos oficiais, sendo que nos materiais da professora Myriam aparecem alguns tópicos da teoria dos conjuntos, com simbologia e o apelo à justificativa de propriedades.Para finalizar esta edição temos o artigo de Mariliza Simonete Portela e Liceia Alves Pires intitulado “A experiência de um grupo de pesquisa na formação de estudantes universitários”, quando apresenta as contribuições para a formação inicial de formação dos estudantes de Pedagogia e da Licenciatura em Matemática do Grupo de Pesquisa em História da Educação Matemática (GPHEM). Verificou-se que os estudos e ações desenvolvidos pelo grupo trouxeram ganhos para seus participantes, pois possibilitaram uma compreensão mais aprofundada da história da educação matemática, com possibilidade de promover mudanças em suas práticas pedagógicas.Por derradeiro, os artigos que integram este número temático da Revista Argumentos Pró-Educação trazem significativas contribuições para a história da educação matemática no que se refere ao saber profissional do professor que ensina matemática, ensejando tornar mais abrangente o debate em torno deste assunto, posto que são apresentados resultados de pesquisas que dizem respeito a todos que se interessam pela área da educação, particularmente os professores de matemática dos anos iniciais. Nosso tributo de gratidão aos autores e pareceristas que colaboraram na elaboração deste número temático, deixando nosso convite a todos os leitores da Revista Argumentos Pró-Educação para apreciarem e refletirem sobre mais esta edição.

Biografia do Autor

Wagner Rodrigues Valente, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Doutor em Educação. Livre Docente no Departamento de Educação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). São Paulo-SP/Brasil.
Publicado
2019-06-25
Como Citar
Duarte, A., & Valente, W. R. (2019). EDITORIAL. Argumentos Pró-Educação, 4(11). https://doi.org/10.24280/ape.v4i11.651
Seção
Editorial